sexta-feira, 28 de julho de 2023

Transforamar

O químico Antoine-Laurent de Lavoisier, Já nos afirmara há três séculos atrás que: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Já outra vez, quando eu ainda era adolescente, em meus tempos de faculdade, um professor meu de Literatura me disse que as maiores obras da Literatura Mundial, nasceram de emoções intensas. Muito intensas:Tenham sido elas provindas de amor, paixão, ódio ou até mesmo tristeza; fato é que foram fontes de inspiração para sagas epopéicas, cenários de grandes protagonistas e histórias.

Parando agora para refletir sobre isso - enquanto olho para o horizonte, em uma tarde quente de verão enquanto a brisa suave toca o meu rosto e esparrama meus cabelos cacheados por sobre minhas bochechas, como se eles por si só já não tivessem suficientes pensamentos na cabeça… me coloquei a refletir não apenas sobre como nada, de fato se perde, porém se transforma… como também nos é dado o poder de direcionar e focar no que essas energias/sentimentos podem se tornar. Podem “vir a ser”.

Nós podemos transformar a energia ou os sentimentos que nos é dado. Se tivermos a Sabedoria necessária ainda somos capazes de moldar, modificar e redirecionar essa energia. Mas… “a Sabedoria vem de Deus”. 

Muitas das nossas frustrações nascem e permanecem não pelo o que o outro faz, mas porque nós mesmos colocamos perspectivas, expectativas - muitas vezes inalcançáveis - na outra pessoa. 

Quando conseguirmos identificar que o poder que o outro tem sobre nós é apenas o poder que nós damos a ele, tudo muda. As perspectivas, as expectativas e, claro, o nosso comportamento diante dessas situações e/ou pessoas.

Contente-se que o outro é o que ele pode ser, e não o que você quer que ele seja… e você verá que as suas expectativas serão tão baixas que, no momento em que essa pessoa falhar - porque ela é apenas um Ser Humano, como você - será muito mais fácil de você seguir em frente sem sofrimento. 

Então transforme o que você recebe. Transforme em poesia, em uma foto, em uma música ou em uma crônica. Transforme o comportamento que vem de você. 

Leia a Bíblia, clame a Jesus e descanse na paz que só o Espírito pode te dar. No final das contas… a única fonte que te dá algo que você não precisa transformar é Deus. Porque Ele é Soberano, Perfeito e a própria significação do Amor. Ele te dá exatamente o que você precisa. Ele te ama sem esperar isso em troca. Ele te presenteia com a vida é com tudo o que você precisa, e, as vezes, com o que você não precisa também, sem planejar de antemão te jogar isso na sua cara.


Porque Deus não é homem para mentir e também porque céus e terras passarão, mas a palavra Dele, não.

Deixe que ele Transforme o seu coração, a sua expectativa… o seu Ser. Pois Ele é o único nesse mundo todo que não tem expectativas sobre você, porque Ele de tudo já sabe antes mesmo de você ter existido. Descanse e deixe-se transformar. Nada se perde, tudo se transforma. Está aí a Ciência para explicar e a fé em Cristo Jesus, para confirmar. Não desista. 

domingo, 9 de julho de 2023

Eu sentira fome. Sentada em uma cadeira simples, e com os braços apoiados por sobre a minha bancada, eu a deslumbrava. Era tão linda, pálida, cheia. Sua superfície imperfeita, cheia de buracos, era o que tinha de mais destacável naquele pleno céu opaco.

Fome. Eu só pensava na fome... aliás, em todas aquelas fomes: fome de comida, aprendizado, amor, companheirismo...

Em noites como aquela, eu costumava parar, sentar em minha velha cadeira, apoiar os braços por sobre a minha bancada, tão branca quanto neve e olhar aquela circunferência, tão branca quanto a luz. Quando criança, ainda na escola primária, eu lera um conto que dizia que um menino, em uma noite comum, quisera tocar a lua com uma vara de bambu. Às vezes sinto, em noites solitárias com esta, que eu deveria fazer o mesmo e roubar a lua só pra mim.

Todavia, à medida que penso que ao fazer isso, eu tomarei a luz que ilumina as noites de todas as pessoas, eu me sinto apenas uma fútil egoísta que pensa nada mais do que na sua própria felicidade.
"I am a selfish bastard, but I am not alone"...
Neurose. Neurose.
 
Branca, como a lua, naquela imensidão negresca de uma fome sem igual.

Home, 23:15 GMT.


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O despir que despede-se de si


Dedico a quem consegue ser tão intenso quanto eu.

Eu me despi para a vida, me reinventei. Me entreguei, amei, sofri, apaixonei. Mas dizem sempre por aí que se expôr, assim, do jeito que a gente é, nos torna mais vulneráveis, fracos mesmo, né? Pois é, comigo não... comigo, me despir é ir justamente ao lado contrário: É chegar ao trófeu que só os verdadeiramente fortes conseguem. É amar, sorrir, vencer.
E, vejam bem, esta sou eu do jeito que realmente estou; em preto e branco, da forma mais genuína que eu posso ser. Um sim à espontâneidade e franqueza em toda e qualquer relação sempre! (Principalmente a sua consigo mesmo).
(...)
Talvez até uma ressaca de ligações no meio da noite, de mensagens mandadas sem planejamento ou aviso prévio, de inspirações taciturnas na madrugada, do abrir e fechar a geladeira, da ansiedade que ataca e quase mata. Um brinde da paixão feroz, excêntrica e forte.
As pessoas dizem que se apaixonar leva tempo. Talvez leve para elas, que não são tão intensas a ponto de se permitir e, quando digo se permitir, estou falando de ir lá e dar a cara a tapa e fazer o que tem vontade: sem jogos, sem meias palavras, sem monólogos ou sem o tal maldito silêncio. Coisa ruim é essa falta de comunicação e esse querer alcançar o xeque-mate do jogo, sem querer falar nada.
O ruim de tirar a roupa que te veste, para qualquer um que te cruza o caminho, é que você fica suscetível a não conseguir se vestir mais. E, quando falo vestir, retiro as possíveis interpretações ambíguas que isto possa trazer. Estou falando de pele, de alma e não tão só da roupa em matéria, que tão rapidamente pode se desfazer. Quando nos depimos para alguém no real e nos mostramos verdadeiramente como somos, há duas saídas: assustar ou fugir e, veja bem, nenhuma dessas é uma opção lá muito agradável.
Todo mundo fala sobre espontaneidade, o quanto ela é preciosa e o quanto deveria, de fato, ser valorizada. Mas a primeira coisa que as pessoas fazem quando você lhes mostra o verdadeiro ego que está em você, o primeiro impulso delas é se afastar e esquecer de você.
Meu texto pode estar bem Clarice Lispector, mas a verdade é que está mais para Aluísio de Azevedo mesmo... porque, como eu disse para vocês no início: cansei de fingimentos, de jogos e de espera. Eu quero mais é que vejam - para além da minha roupa - a minha alma, meu intelecto, o meu ser. Eu quero mais é me despir e fazer com que vejam quem realmente sou, sem desavenças ou despedidas... mas com tão só e apenas: amor.

São Luís, Maranhão, Brasil 01:21 p.m.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A virtude do virtual


Dedico a um estranho que encontrei em um domingo de sol. 
Ao G,
Com carinho.

A tecnologia aproxima, mas também tem o poder feroz de distanciar. Tudo é muito rápido nessa era tecnológica: precisa ser. Acontece que com tanta tecnologia e com tão pouco tempo para se ter tempo, acabamos nos perdendo em meio a um pensamento ultra-existencial: o de viver ou não o momento.
Quando estamos longe, acabamos ficando mais próximos um do outro, do que estando, realmente, perto dessas pessoas. Quer um exemplo? Saia com um amigo e eu não te dou dez minutos para que ambos estejam ali, juntos, porém separados pelo mundo virtual, afinal, viver a realidade verdadeira se tornou fatídico, imprevisível e cansativo.
Hoje, se você tem fome, basta instalar um app de delivery. Se tem vontade de ouvir  música, lá está uma série delas de todos os tipos e preços. Quer comprar roupa, sapato, eletrodomésticos? Quer viajar, pagar a conta do banco? Simular perda de calorias? Tudo tão rápido, nesta era tão veloz, neste Tempo tão sem tempo. Ah... e o cansaço! O cansaço de viver esta vida real, porém tão ilusória, de amores imperfeitos, de amizades não tão francas, de uma família que já não é suporte. Então recorremos novamente à fuga: e lá estamos nós, novamente, vivendo uma realidade virtual mais real que muita vida ao vivo. Baixa um app daqui, outro dali e, assim caminhamos para a ideia, aquela que criamos sobre a tal Felicidade.
Sua amiga te bloqueou no whatssap? Motivo para você nunca mais olhar na cara dela. Você odeia grupos, mas seus amigos fizeram um e te incluíram, aí você resolve sair dele e ninguém mais lembra da sua existência. Ou pior: seu relacionamento acabou e você tenta, por mais que isso seja difícil, acreditar que sim, a felicidade pode estar em um daqueles apps e, mais uma vez, está você lá: escravo da app store.
Esses dias baixei um app e resolvi conhecer alguém... afinal, há tempos  não me dava este presente, oportunidade, prazer ou seja lá o que isto possa vir a ser. A verdade é que eu estava curiosa para provar da sensação: o frio na barriga, a ansiedade pelo encontro com um ser que até então, estava do outro lado da tela: pixelizado, intocável e tão friamente idealizado em um universo virtual que tão prontamente poderia estar ali, objetificado em sua forma quente, orgânica e cheia de calor: falando comigo, téte-a-téte. A propósito, a termodinâmica, talvez, viria bem a calhar até, quem sabe? Mas é bom lembrar de Kant, grande mestre e sua metafísica, afinal: corpos serão sempre algo a mais do que apenas corpos e a gente precisa atentar a isto, mas...
Pois bem, aquele frio da barriga foi virando mais frases na mensajería, mais vírgulas nos parágrafos e mais ansiedade na vida real.
Aí a gente se dá conta que nossa vida real é uma farsa, onde ser sincero ou espontâneo, assusta. As pessoas gostam mais de jogos e eu não entendo o porque, principalmente quando o que mais buscamos é, como eu disse: não perder tempo. Viva o virtual! (Já que viver mesmo, em tempos como este, não é lá uma das coisas mais fáceis a serem feitas.) como já dissera Lulu Santos: "E assim caminha a humanidade: a passos de formiga e sem vontade."
Chegado o momento, acaba-se esquecendo que o app era a fórmula mágica da felicidade, o escape perfeito para a utopia idílica do true love e dos tais happy ever afters. Só que não, né? Porque daí ao invés de mantermos lá as frases frenéticas sob uma superfície cara, de cristal composto, o que a gente quer na verdade é essa verdade real que no final é ilusória e, daí, meu amigo, depois da troca de calor em uma termodinâmica não tão dinâmica assim, a Frustração. A frustração com 'F' maiúsculo, doce e tão dicotômicamente amarga que é esse poderoso sabor mesclado e confuso de uma boa, todavia paradoxalmente maléfica,  dose de Realidade. O pior, é que na maioria das vezes, ela vem sem aviso prévio ou qualquer outro tipo de notificação.


São Luís, Maranhão - Brazil  02:31 a.m. 08/29/2017

terça-feira, 30 de junho de 2015

Uma ida, ida sem volta

Essas coisas de paixonite passa... Passa. Minha mãe sempre me dizia sobre isso. Falava que quando a gente crescia, virava gente grande... sempre ia encontrar alguém. Mas na minha mente de criança, nunca me passou pela cabeça que esse "encontrar", seria encontrar no metrô, na rua, na escada, na sala de aula.
Eu sempre imaginei aquela coisa meio Cinderella perdendo o sapatinho de cristal escada abaixo. O único problema foi que o único objeto de cristal que perdi foi o meu próprio coração que, além de lapidado, foi estraçalhado: diversas vezes; de distintas formas.
Nunca consegui encontrar alguém. Aliás: até encontrei, mas não da forma como minha mãe dizia. Eu sempre fui muito desastrada, diga-se de passagem; nunca consegui encontrar alguém assim... aleatoriamente. Só encontrava esbarrando, tropeçando. Caindo. 
Em inglês o verbo cair é conjugado na forma "to fall". Já escrevi sobre isso, algumas vezes... porque "fall"... falir, em português, super significa se deixar "entrar na vala", na falência, na morte, na obscuridade, na tristeza, na fossa. 
No caminho. Caminho de passagem só de ida para a tristeza. Passagem de ida, de ida sem volta. E cá estou eu mais uma vez escrevendo sobre a porcaria de esbarrar mais uma vez e sempre na mesma pessoa, aquela que você sente, acha. Acha e acha que vê que vai ser a pessoa da sua vida e daí chega a porra do metrô: e você pega ele e vai parar em Montmartre ou Gare du Norde... e se fode. Se fode.
Se fode sozinho: na vida, na fossa, na vala, na caída, no abismo e no metrô. No metrô de uma passagem de ida. De ida sem volta.


quarta-feira, 29 de abril de 2015

Fall (ida) in Love - Parte 3

Antes de sair declarando todas as coisas coloridas que se passavam em minha mente e de contar sobre todas aquelas milhares de borboletas que estavam "zanzando" no meu estômago e; obviamente; todas aquelas outras - e tantas! - sensações orgásticas inefáveis que eu sentia todas as vezes que pensava ou que O via, eu deveria saber que as coisas - nessa vida real que a gente leva ou empurra - não acontecem como em textos como este: em que eu posso idealizar cada vírgula que é disposta nesta folha de papel.
"Idealizar: v.t.d e v.pron. Projetar ou projetar-se de modo ideal; imaginar alguém de maneira perfeita: idealizar um personagem, um modelo. V.t.d e v.bit. Fantasiar; conceber de modo imaginativo; criar na imaginação. V.t.d. Elaborar a planta ou o plano de; planejar, conceber." Bom, já deu para entender...
(...)

Quando você idealiza muito a subida de um balão de festa junina é bom tomar cuidado: quando ele cair pode queimar muitas casas, quintais, ruas... E ainda fazer com que você seja preso!
Essa coisa de cair, de 'fall'... Já contei que sempre fui uma desastrada? Sempre derrubei coisas, caí bastante, tropecei em diversos lugares e; quando adolescente; cheguei a quebrar mais copos e pratos da minha mãe do que eu pudera imaginar. Ainda bem que só eram pratos. E copos. E isso, meu bem, tem conserto: é só comprar outros novinhos na loja.
Eu sempre caí bastante com os tropeços desta vida e aprendi muito; acredite; até quebrando as tais louças da minha mãe. Acontece que o coração da gente não é como louça e não dá para ir em uma loja de um e noventa e nove; ou em uma daquelas bem caras; e comprar outro. Não, não dá. E isso é o que mais me incomoda.
(...)
Outro dia resolvi dar o meu coração...(eu poderia tê-lo vendido - dessa forma, talvez, ainda pudesse obter algum lucro - mas não: eu dei). Sim! Dei assim "de bandeja", como dizem por aí. Dizem que tudo se torna mais incrível e excitante quando roubam o nosso coração, mas eu achando que estava sendo esperta, recebi dá-lo de presente. Tão ingênua eu!

Fato é que, no meio disso tudo, eu gastei muito esforço e tempo tentando pegar meu coração de volta. Mas creio que ele gostou bastante de ter ficado lá onde ele está: talvez isso faça com que eu evite de deixá-lo ser quebrado, como as louças da minha mãe, uma vez mais. (Já que só há um pedacinho dele inteiro, porque o resto se foi). 
Quereria eu poder comprar outro coração destes novinhos em folha que a gente vê em novela, ou em contos de fadas ou em crônicas fatídicas como esta que eu escrevo agora. Eu dei - e perdi - mais que um coração. Eu fall... fali. Fali totalmente in love. Por outro ângulo, isso me rendeu alguma coisa, além desta imensa vontade de fall, de cair... e não mais levantar.

Allivád Snitram (c) São Carlos, São Paulo, Brasil - 11:25 hrs 29.04.2015


terça-feira, 21 de abril de 2015

O mar dos teus olhos

Dedico para você que me faz viver um mar azul de sensações. 

Com amor.

Ao J.

Querido Diário,


É sempre muito difícil falar "eu te amo". Na verdade, difícil, difícil, não é... mas as pessoas complicam isso o tempo todo. Seria tão mais simples se pudéssemos dizer o que sentimos sem esperar o mesmo em troca ou sem se preocupar se a pessoa vai ficar assustada, sem reação, espantada, perplexa ou feliz. Isso: feliz. Vejam só... eu disse: até mesmo feliz.
Sim! Porque a Felicidade é uma coisa muito rara hoje, muito abstrata. Conceitual. Na realidade, sempre foi. Ou, lá não sei eu, nunca nem existiu. Para falar a verdade, ela é o ingrediente mágico que falta na vida de cada ser humano que nasce e que vive na busca eterna, incansável e fatídica de ferramentas para encontrá-la.
A principal ferramenta para a Felicidade é, justamente, poder identificar-se através do outro, do "conhecer" o outro, pois é desde este detalhe, mínimo talvez, que crescemos enquanto indivíduos e podemos nos reconhecer enquanto a verdadeira essência do que somos. A partir daí, nos tornamos aptos e imersos no conhecimento mais profundo acerca de nós mesmos.
Eu sempre fui de falar "eu te amo" a torto e a direito para as pessoas que eu re-a-l-men-te amo. Sou assim: espontânea, sem escrúpulos e penso que não há porque não falar o que eu sinto, quando eu sinto, para as pessoas pelas quais eu tenho algo que sei que sinto.
Bom, você entendeu: no final das contas, não é só falar - gestos também dizem muito; mais até que as famosas palavras; e as vezes, para você dizer que ama, nem precisa verbalizar: pode parecer clichê, mas apenas um olhar já é capaz de passar toda essa energia desse sentimento tão benigno que é esse tal de Amor.

Bom... mas voltando ao tópico do "verbalizar"o sentimento, vou lhes contar o que me passou outro dia. Como eu disse, sempre falei muito que amava para quem eu amava e quando eu amava. Mas ontem, especificamente ontem, eu vivi a experiência de dizer o primeiro "eu te amo" para uma pessoa que não é meu irmão, nem meu pai, nem minha mãe, nem meus amigos (que a propósito, ouvem isso regularmente de mim), nem a Sofia (minha cachorra). Mas como foi a primeira pessoa, neste sentido e dentro deste contexto tão (e completamente) novo para mim, confesso que não soube mesmo o que fazer.
As palavras saíram naturalmente, segmentadas, ao mesmo tempo (apesar da dicotomia) por um triângulo que os meus olhos faziam enquanto eram direcionados neste sentido: da boca dele para o olho esquerdo, do olho esquerdo para o olho direito e do olho direito para a boca, fiz isso umas três vezes, rápidas, mas que no meu subconsciente demoraram uma vida para acontecer.
Foi tão simples, tão enaltecedor dizer aquilo. Me senti a pessoa mais leve do universo - tanto que poderia muito bem ter virado esse pedaço de papel e ter voado por aí com a menor brisa que houvesse - e; para além de tudo: muito, muitíssimo e extremamente feliz.
Eros e os seus encantamentos. O problema é que me apaixonei pelo filho de Poseidon e eu não sabia nadar. Na verdade, nunca fui muito fã de mar e navios e todas essas coisas que envolvem elementos marítimos. E, um grande problema; não para mim; mas creio que para ele... é que ele queria viver em uma ilha. Uma ilha só dele e creio que ali não havia mesmo lugar para uma pessoa como eu: expansiva, espontânea, sem escrúpulos e nem para o cara que insistia; naquele momento; em me acompanhar: O Amor.
É... esse parágrafo compridão foi tudo o que eu pensei enquanto fazia aquele triângulo lá, com o olhar. E uma lembrança que não sai mesmo da cabeça, fico remoendo isso e já faz 24 horas: ele não disse nada e eu também, sinceramente, não esperei que dissesse, pois como eu disse, eu não faço e nem digo as coisas esperando receber na mesma moeda. A vida seria muito pacata e sem graça se fosse assim.
Ele me olhou, fez exatamente o mesmo movimento em relação à mim, aquele lá... do triângulo com os olhos; passou a mão por sobre a tez da superfície fria (quase congelada de nervosismo) da pele da minha bochecha direita, me olhou bem no fundo dos olhos - quase pensei que ele veria minha alma daquele jeito, eu hein?! - e... não disse nada. Nada. Nadinha.
NADA, gente!
Bom... aí eu fiquei sem graça porque me senti uma completa patética que além de ter acabado de declarar oficialmente o que estava sentindo, ainda estava ali: no meio do mar; que eram aqueles olhos azuis; sem barco com ou sem vela, começando a me afogar.
Fechei os olhos enquanto ele me dava um beijo também. Quando eu abri, continuei olhando para ele em silêncio. Ele também me olhou. Ficamos assim um bom tempo, três minutos, talvez. Me beijou na face, depois me abraçou, me olhou de novo e veio novamente em minha direção... dessa vez, em um beijo terno, sutil, porém demorado. No meio do beijo, eu abri meus olhos - aliás... você já se perguntou porque a gente fecha os olhos quando beijamos? Eu sempre me questiono sobre isso... deve ser porque a gente fica parecendo peixe, se beijar com os olhos abertos... bom, sei lá. 
E quando eu abri, vi que ele, enquanto me beijava, sorria também. Eu comecei a sorrir e, de repente, estávamos os dois lá: rindo sobre nada, juntos no mesmo barco indo talvez para aquela ilha - ou não, mas isso agora já não importava - e sim: acompanhados pelo Amor.
Ele não disse e também não precisa dizer. O que importa é o que eu sinto e, enquanto isso me fizer bem, acredito que devo e lutarei para continuar sentindo. Agora estávamos ali, no meio daquele oceano azul, juntos, unidos e se eu tivesse que nadar ou navegar para chegar naquela ilha... por quê não? Já não dizia Pêssoa que navegar é mesmo preciso e que viver nem sempre é assim? Deixo essa pergunta para vocês responderem, já que preciso voltar para dar um final para essa nova história. É... o amor tem várias formas. Talvez dessa vez eu deva mesmo me afogar.

Maria Clara,
Paris, 31 de dezembro de 1992.